Por momentos senti o desejo e a ilusão de que seria possível voar ou deixar-me submergir por aqueles brilhos esmeralda, rubis e azuláceos que delimitavam claramente o perímetro daquela coisa voadora.
Por esses momentos, deslocando-se o objecto quase por cima do ponto onde estávamos, nem eu nem os outros conseguimos a vislumbrar forma da parte superior do objecto.
Contudo à medida que ele se foi afastando e quando cruzou a linha das Arribas, para no instante seguinte desaparecer do nosso raio de visão, era perceptível que não havia claridade nem nenhuma fonte ou forma de luz no espaço e na área por cima do objecto.
O objecto, sempre emitindo estas luzes, e num absoluto silêncio, foi-se afastando lentamente da praia, sobrevoou a mata e, mais adiante, passou por cima das arribas, ponto a partir do qual deixámos de o poder observar, ficando a praia de novo no negrume da noite, e nós os três, boquiabertos sem conseguir articular qualquer frase coerente.
Não consegui determinar nem o tamanho do objecto nem a altitude a que voava.
Mas posso tentar fazer alguns cálculos.
Assim, tendo como referência a altura das arribas da Costa da Caparica (perto de 50 metros), eu diria que o objecto não voaria a mais de 100 metros de altitude, e que o seu diâmetro teria no máximo 10 a 20 metros.
A sua trajectória foi no sentido Sudoeste – Nordeste num andamento lento mas constante e sem qualquer emissão de som, ruído ou vibração.
Desde que surgiu sobre o mar, perto da praia, até se sumir por cima das arribas, afastadas de nós cerca de 1000 metros, a sua passagem terá tido uma duração de 30 a 60 segundos.
Como tinha os olhos fechados, não vi o exacto momento inicial desta manifestação.
Mas a Isabel e o Mário, que estavam ao meu lado na conversa, disseram-me, que se fez dia de um momento para o outro.
Ou seja, a luz foi activada no momento em que o objecto estaria já muito próximo sobre a praia. Curiosamente, apesar da sua potência, eu de olhos fechados não senti a sua luminosidade.
Mesmo com os olhos fechados, normalmente, qualquer pessoa apercebe-se da claridade do sol. Mas, naquele caso, embora a luz emitida pelo objecto tenha produzido uma claridade semelhante à do dia solar, eu só dei por ela quando abri os olhos.
Eu, como toda a gente nessa época, já tinha discutido com muitos amigos sobre a temática dos Óvnis, e embora não negasse a possibilidade de existir vida inteligente fora do nosso planeta, a minha posição sobre os relatos de avistamentos era, até aquele momento, como a do São Tomé: “Ver para crer”.
Ninguém me convence de que aquilo que vi, que era claramente um engenho e não um fenómeno da natureza, seja fruto da tecnologia da espécie humana, pelo menos da actual espécie humana.
Um objecto voador que não emite qualquer som, mas que ilumina a noite como se fosse dia, com uma luz com propriedades irreais, sugere uma ciência que se estivesse na posse de qualquer sociedade humana, lhe daria um controlo absoluto sobre o mundo.
Por outro lado, embora sendo um engenho, não me venham com histórias de armas secretas americanas ou soviéticas (sim, ainda estávamos no tempo da Guerra Fria).
Aquilo era tecnologia para projectar a espécie humana para o caminho das estrelas e para mais perto de Deus.
Acredito que, sendo eventualmente tecnologia terrena, a sua existência e consequentemente a sua utilização por parte de uma nova e superior consciência humana, certamente que anularia a fonte do mal, ou seja, a miséria que a ganância económica gera por esse mundo fora e da qual surgem os conflitos locais, os regionais e por fim os mundiais.
Mesmo que o detentor dessa ciência fosse uma potência materialista, individualista, e ávida do domínio mundial, ela seria certamente usada para ganhar vantagem sobre as outras potências concorrentes aos recursos do planeta, nem que se tivesse de passar por uma fase de destruição e conquista dos outros povos logo, para o efeito, classificados de atrasados, primitivos e bárbaros, como tantas vezes fizemos ao longo da história da humanidade.
Portanto essa arma seria naturalmente revelada e usada, como a bomba atómica foi revelada e usada, dando início à presente era atómica.
Naquela noite, as minhas profundas reflexões não eram muito diferentes daquelas que atrás acabei de expor. Porém, já cansado da discussão que o avistamento do fenómeno gerou entre nós os três, decidi por um ponto final no assunto, avançando a sugestão de que apenas teríamos avistado a queda de algum pedaço do Skylab que tivesse ficado para trás.
O SkyLab foi a primeira estação espacial norte-americana, tendo sido colocada em órbita da Terra a 14 Maio de 1973. Pesava 100 Toneladas e embora estivesse previsto ficar por muitos anos em órbita, sucedeu que a sua missão tinha acabado prematuramente dias antes da noite dos acontecimentos agora narrados.
Com efeito, foi na quarta-feira, 11 de Julho de 1979 que ocorreu a sua reentrada na atmosfera, tendo-se de imediato despenhado no Oceano Índico. Foram também encontrados destroços na Austrália.
Foi em virtude deste acontecimento que a data precisa do avistamento do Óvni na Costa da Caparica, na noite do Sábado seguinte, ficou devidamente registada na minha memória.
Quando o Sol nasceu, no Domingo, ainda estávamos um pouco confusos com o sucedido, mas a teoria do pedaço do Skylab que tinha retardado a sua reentrada, evitava, entre nós, a discussão de questões sem resposta.
Habitualmente só regressávamos a casa, depois do pôr-do-sol, mas naquele Domingo, a praia perdeu o interesse, e pela hora do almoço já íamos a caminho de Lisboa.
Nós sabíamos que tínhamos visto um fenómeno inexplicável.
Observámos que outras pessoas que estavam nas nossas imediações naquela praia naquela noite também o viram.
Agora, no regresso a casa, estávamos longe de imaginar que centenas, talvez mesmo milhares de outras pessoas tivessem igualmente avistado sobre a região de Lisboa, nessa noite, um objecto voador não identificado.
Quando chegámos á “civilização” fomos surpreendidos pela informação dos jornais, da rádio e da televisão que referia diversas testemunhas de avistamento: Pessoas a passear no Marquês de Pombal; Automobilistas em diversos pontos da cidade; Pessoal da Torre de controlo do Aeroporto da Portela e até, supostamente, o comandante de um avião da TAP que na altura fazia a aproximação ao aeroporto de Lisboa.
Da imprensa desse dia, veja-se o que escreviam os extintos Diário de Lisboa e Diário Popular sobre o ocorrido.
Os acontecimentos aqui narrados passaram-se já há mais de 30 anos, e embora continuem vivos na minha memória, poucas vezes tenho comentado o assunto.
Quando até os familiares próximos duvidam do relato, e aqueles que acreditam fazem-no por condescendência, a atitude óbvia era ficar calado.
Durante estes anos todos, aqueles que viram e que contam a história do que se passou naquela noite sofreram humilhações, porque cada um de nós tem estado só e isolado.
É a palavra de uma só pessoa contra a de uma sociedade de cépticos ao seu redor.
Agora, que temos ao nosso alcance de um poderoso meio de comunicação, está na altura de, pelo menos, juntarmos os nossos relatos, para que a memória dos factos não se perca.
Saudações amigas a todos.
Lisboa 6 de Fevereiro de 2010
Jorge
Certamente que esta foi uma das muitas histórias que se encontram por ser reveladas por quem viveu algo de extraordinário e inesquecível.